A didática como arte
Já se foi o tempo em que os melhores professores eram os que tinham mais informações e dominavam maior número de conteúdos disciplinares.
Com a dinaminicidade do mundo globalizado, os conteúdos envelhecem rapidamente as informações científicas ficam cada vez mais provisórias e os antigos paradigmas do ensino dão lugar a novas formas de se encarar a DIDÁTICA para que esta possa atender aos desafios da modernidade.
Neste sentido a DIDÁTICA tem perdido cada vez mais seu caráter instrucional baseada em aulas e provas repetitivas para assumir, com vigor, o “status” de arte. Arte que jamais descarta as informações científicas, pois sem elas não se pode conhecer e manipular o mundo. Arte que, por outro lado, sabe que essas informações só serão relevantes se forem impregnadas de estética e beleza. Afinal, conhecimentos científicos são indispensáveis, mas sozinhos são impotentes para transformar massas disformes em pessoas cidadãs.
Não basta ao professor ter parâmetros curriculares. É-lhe imprescindível o segredo da sedução. O educador, profissional e artista, deve ter a magia de fazer sonhar. E sonhos dão vida aos argumentos, aos conteúdos, às lições... “Só se convence abrindo as avenidas dos sonhos” afirmava o filósofo e mestre da didática Gaston Bachelar.
Pensando assim, a DIDÁTICA contempla alguns princípios significativos que precisam estar na pele e nos poros do educador contemporâneo. Compreendê-los significa aperfeiçoar a prática docente. Aplicá-los no dia a dia significa dar ao cotidiano pedagógico a tão propagada e pouco vivenciada qualidade de ensino.
Primeiro princípio: Compreender que a vida é um constante ato de aprendizagem. Se há a vida na escola, há também a escola da vida. Com o advento da multimídia e da cibernética o mundo está ficando cada vez menor e mais desafiador. Desta forma nunca deve haver um buraco negro entre vida e escola, entre teoria e prática, entre o que está nos livros e o que está nos jornais. O professor deve ter capacidade de propiciar ao aluno capacidade de pensar crítica e criativamente a realidade. Aprendendo a arte de pensar, o aluno cria a possibilidade de descobrir novos saberes. Não fica apenas na memória acumulada. Produz novos conhecimentos. O educador que compreende esse princípio pode dizer como Edgar Morin: “Uma cabeça bem feita vale mais que uma cabeça cheia”.
Segundo princípio: Saber que a aprendizagem é um esforço reconstrutivo pessoal. O professor nunca é dispensado, conforme nos mostrou “O mundo de Sofia”. Porém é o aluno que, de forma contínua, constrói o conhecimento. Este processo tem duas dimensões: a dimensão do prazer e a dimensão da dor. Aprendemos o saber quando ele tem sabor. Mas também há aprendizagens profundas que nos dilaceram as entranhas. Concordo com um adágio popular que diz: “Ostra feliz não produz pérola”.
Terceiro princípio: Entender que, diferentemente dos velhos paradigmas conteudistas, que enfocavam apenas o coeficiente de inteligência, os novos paradigmas didáticos devem enfocar a integralidade da razão/emoção, e da realização pessoal/social do aluno. Isto exige do educador uma didática que esteja voltada para uma visão holística, para as múltiplas inteligências, para a integração de conhecimentos e para a transdisciplinaridade. O educador que entende esse princípio sabe que bom professor não é o que produz alunos, mas o que produz mestres.
Pensar a DIDÁTICA como arte é pensar que em cada aluno existe uma beleza adormecida. O educador, assim, trabalha para que a beleza surja, da mesma forma que do trabalho artístico de Michelangelo, saiu Moisés, a ponto de o mestre dizer para sua obra esplendorosa: “Parla, Parla”.
Está certo Rubem Alves: “As inteligências dormem. Inúteis são todas as tentativas de acordá-las por meio da força e das ameaças. As inteligências só entendem os argumentos do desejo: elas são ferramentas e brinquedos do desejo”.
Carlos Alberto Rodrigues Alves,
Conselheiro do Conselho Estadual de Educação.
Endereço eletrônico: carlosalves@bbs2.sul.com.br
Conselheiro do Conselho Estadual de Educação.
Endereço eletrônico: carlosalves@bbs2.sul.com.br
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