sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

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Amado Jorge!


Fascinante, a trajetória de Jorge Amado confunde-se com a própria história cultural do século XX


"Eu sou muito otimista, muito. O Brasil é um país com uma força enorme. Nós somos um continente, meu amor. Nós não somos um paisinho, nós somos um continente, com um povo extraordinário."
João Amado Faria leva seu filho adolescente de volta para o internato, após o período de férias. Despedem-se e João vai embora, acreditando ter deixado o filho na segurança do colégio de padres. Vai descobrir seu engano somente alguns meses mais tarde, ao saber que o garoto, na verdade, está na fazenda do avô, aonde chegou após uma longa viagem solitária pelo interior da Bahia. O jovem é levado de volta para o colégio e, depois desse episódio, desiste das fugas materiais e passa a se concentrar numa artimanha mais elaborada de fuga e protesto: a escrita. Esse jovem é Jorge Amado de Faria. O nosso Jorge Amado.
Nascido numa fazenda no interior do distrito de Itabuna e tendo sido um aluno exemplar, Jorge Amado é aprovado entre os primeiros colocados na Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Janeiro, estado para o qual se transfere em 1930, então com 18 anos. Já no ano seguinte vê seu primeiro romance, O país do carnaval, ser publicado. Com tiragem de mil exemplares, o livro foi bem recebido por público e crítica. Após uma viagem pela zona cacaueira da Bahia, Jorge Amado escreve e publica o romance Cacau, em 1933. Nessa época, conhece Graciliano Ramos , com quem travaria uma amizade duradoura. No ano seguinte, publica o romance Suor. Nessa época, Jorge Amado não vivia exclusivamente de literatura; foi uma fase de diversos trabalhos como jornalista e editor para várias revistas cariocas.
Graciliano RamosDono de estilo contundente e direto, Graciliano Ramos é um dos mais importantes autores da literatura brasileira. Nasceu em Quebrangulo, em Alagoas, no ano de 1892 e fez os primeiros estudos no interior de Alagoas, tendo depois tentado o jornalismo no Rio de Janeiro. Regressou a Palmeira dos Índios (AL), cidade da qual foi prefeito, em 1928, renunciando ao cargo dois anos depois e passando a dirigir a Imprensa Oficial do Estado. Em 1933, foi nomeado Diretor da Instrução Pública. Por suspeita de ligação com o comunismo, foi demitido e preso em 1936. Remetido ao Rio de Janeiro, permaneceu encarcerado na Ilha Grande, onde escreveu Memórias do cárcere. Em 1945, aderiu ao Partido Comunista Brasileiro. Suas obras mais importantes são São Bernardo (1934), Angústia (1936) e Vidas Secas (1938).
ComunismoO comunismo é uma estrutura sócioeconômica e uma ideologia política que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes e apátrida, baseada na propriedade comum e no controle dos meios de produção e da propriedade em geral. O comunismo, no sentido marxista, refere-se a uma sociedade sem classes, sem Estado e livre de opressão, onde as decisões sobre o que produzir e quais as políticas devem prosseguir são tomadas democraticamente, permitindo que cada membro da sociedade possa participar do processo decisório, tanto na esfera política e econômica da vida.



Nos seus primeiros anos no Rio de Janeiro, Jorge Amado entra em contato, provavelmente influenciado pelo círculo de jovens intelectuais da universidade, com uma ideologia que mudaria seu destino: o comunismo . A ideologia e a militância que o acompanhariam por toda vida e seriam determinantes na sua trajetória. Filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), Jorge Amado sofre sua primeira prisão política já no ano de 1936, acusado de participar de um levante ocorrido em Natal, no ano anterior. Nesse mesmo ano recebe o Prêmio Graça Aranha, oferecido pela Academia Brasileira de Letras, por seu novo romance, Mar Morto.
No ano seguinte tem sua primeira experiência com cinema, atuando no papel de pescador e colaborando no roteiro do filme Itapuã, de Ruy Santos. Durante uma viagem pela América Latina e os Estados Unidos, é publicado no Brasil o livro Capitães da areia. No seu retorno do exterior, Jorge Amado encontra um momento delicado da história política brasileira: ele pisa em solo nacional durante a agitação decorrente do golpe político de Vargas e instauração do Estado Novo decorrente do golpe político de Vargas e . Diante disso, tenta fugir viajando pelo país, mas é preso rapidamente em Manaus. Seus livros são considerados subversivos e mais de 1.600 exemplares são queimados em praça pública em Salvador, segundo registros militares. É libertado em 1938 e mantém intensa atividade política, posicionando-se publicamente contra a tortura de presos e a desarticulação do Partido Comunista.
No ano de 1939 a obra de Jorge Amado já começa a viajar o mundo, sendo traduzida para o inglês e para o francês. Na mesma época, Albert Camus, escritor e futuro Nobel de Literatura, publica um artigo elogioso a Jubiabá no jornal Alger Républicain. Jorge Amado decide, então, escrever uma biografia de Luis Carlos Prestes, a fim de iniciar uma campanha pela sua anistia. Apesar de ter sido editado em espanhol e circular oficialmente apenas no Uruguai e na Argentina, o livro chega clandestinamente ao Brasil. A obra acaba sendo um pretexto para que Jorge Amado seja preso novamente, mas dessa vez por pouco tempo. As autoridades decidem confiná-lo em Salvador, numa espécie de liberdade condicional e vigiada, mas esse regime não dura muito e, em meados de 1945, o escritor é preso novamente.
Nas eleições de 1945, Jorge Amado é eleito deputado federal, com 15.315 votos. No seu mandato, propõe a regulamentação da Lei de Liberdade de Culto, vigente até hoje. Nesse mesmo ano, já divorciado de sua primeira esposa, Matilde Garcia Rosa, Jorge Amado conhece aquela que viria a ser a companheira de uma vida inteira, a fotógrafa, escritora e também ativista política Zélia Gattai. Nesse período, publica Bahia de todos os santos, Terras do sem m, Seara vermelha e Homens e coisas do Partido Comunista.
Nas suas viagens e atividades culturais e políticas, Jorge Amado trava amizade com o poeta Pablo Neruda e sua esposa e com o fotógrafo francês Pierre Verger, radicado na Bahia por influência da leitura de Jubiabá. Em 1947, é editado O amor de Castro Alves e a produtora de cinema Atlântida compra os direitos de Terras do sem m. Ainda no cinema, Jorge Amado escreve o argumento de O cavalo número 13 e Estrela da manhã. Nasce seu primeiro filho, João Jorge. Futuramente, por ocasião do primeiro aniversário da criança, Jorge Amado escreve O gato malhado e a andorinha sinhá. No entanto, a história infantil só seria publicada no final dos anos 70.
Com o cancelamento do registro do Partido Comunista, em 1948, o mandato de Jorge Amado é cassado e seus livros são novamente considerados materiais subversivos e proibidos. O escritor exila-se com a família na Europa, uma vez que sua entrada nos EUA é vetada devido à vigência da lei anticomunista naquele país - até 1952, quando volta ao Brasil e fixa residência no Rio de Janeiro. Ao final dos anos 1950, Jorge Amado abandona a militância política, declarando que seu engajamento era prejudicial a sua atividade literária.

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