domingo, 31 de outubro de 2010

Resenha do livro "O que é leitura"

MARTINS, M. H. O que é leitura. In: Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 7 - 93.
 
A leitura se faz de várias maneiras. A primeira leitura que executamos é a da primeira infância, que está representada pelo tato, olfato, audição e visão. Esta leitura é natural, mas não deixa de ser exigente e complexa, pois exige interpretação. Para ler bem é necessário o ato de ler sozinho associado à leitura através dos olhos de outros, é necessário também viver, sofrer, enfim, experimentar. A leitura é prejudicada pela carência de convívio humano e pela pobreza material e cultural. Estas são as principais causas de uma pessoa desfavorecida não fixar um conteúdo de uma leitura. A pessoa carente não possui um leque de interesses amplo. A memória exige interesse para fixar-se e pode ser prejudicada também por um mecanismo de defesa da pessoa, pois ler significa transformar, enfrentar, e estas ações podem causar frustrações maiores que a de não poder ler através dos signos lingüísticos. Ler não é somente um ato mecânico de passar os olhos sobre as letras. Ler exige uma leitura anterior, que é a leitura de mundo (experiências vividas ou vistas), ou seja, bagagem. A boa leitura é aquela que decodificando um texto associa-o às experiências de vida, que produzem intertextualidade, ligações entre mundos, obtendo-se ferramentas para modificar a realidade. A boa leitura causa prazer e otimismo, pois gera poder de ruptura. A leitura está intimamente ligada à decodificação da escrita, embora não seja apenas isso. Antigamente, saber ler escrever, entre os romanos, significava inserir-se na sociedade. Saber ler era privilégio da minoria. O método utilizado para aprender a ler e escrever era bastante rígido. Apelava-se para o “decoreba” do alfabeto, depois a pessoa o soletrava, e logo em seguida decodificava palavras isoladas até fazer isso com textos maiores. Mesmo depois de tantos anos, as coisas atualmente não estão muito diferentes. As práticas de decorebas e métodos ultrapassados continuam sendo usados por muitos educadores. A prática mecânica continua bastante vigente. Muitas pessoas se contentam em apenas saber decodificar as palavras, não se importando em interpretar também o mundo. Talvez, seja daí que tenha surgido a mistificação do hábito de ler. Somente a minoria que é eficientemente letrada cabe o direito de dar sentido ao mundo, enquanto que ao restante resta a submissão aos que “sabem de todas as coisas”. Sendo assim, a “cultura do silêncio” tende a permanecer. Se for o educador aquele que sabe, e os educandos aqueles que nada sabem, cabe ao educador transmitir o seu saber aos segundos. Em busca de prováveis soluções para esses problemas, muitos educadores passaram a proclamar a necessidade da constituição do hábito de ler. A leitura, já que é mais do que apenas decodificar palavras, passa a ser uma ponta para um eficiente processo educacional. Mas existe uma “crise da leitura”, que é um grande entrave. Essa crise é proveniente da não leitura de livros, já que a maioria das crianças não tem o hábito de ler livros freqüentemente. O Brasil deixa muito a desejar quanto à publicação de material impresso. Quanto às bibliotecas, o mesmo. Mas esse cenário tem mudado ultimamente, a oferta vem aumentando, e o volume de exemplares cresce a cada dia, embora a crise seja um pouco mais complexa. O ato de ler também envolve os sentidos, as emoções e a razão. Existem três níveis de leitura, que são a sensorial, a racional e a emocional. Cada uma corresponde a um modo de aproximação ao objeto lido. A leitura racional alimenta o caráter reflexivo e dialético e complementa a leitura sensorial e emocional fazendo com que haja uma ponte entre o leitor e o conhecimento. Na leitura emocional, o leitor é envolvido pelos sentimentos despertados pelo texto, sua atitude tende ao irracional. A leitura sensorial é a primeira etapa da leitura, é o contato visual, tátil com o texto. Não se deve supor a existência isolada de cada um desses níveis. É muito difícil realizar uma leitura apenas sensorial, emocional ou racional, pelo fato de ser próprio da condição humana relacionar sensação, emoção e razão, tanto na tentativa de se expressar como na busca de sentido, compreender a si próprio e o mundo. Tão importante quanto à leitura é a releitura que traz muitos benefícios e oferece subsídios consideráveis, principalmente a nível racional. Ela nos encaminha para uma outra percepção de detalhes para uma melhor compreensão.
tuxdaengenharia.blogspot.com

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