domingo, 31 de outubro de 2010

sábado, 3 de abril de 2010

CONCEPÇÕES E NÍVEIS DE LEITURA

CONCEPÇÕES DE LEITURA

O que pensamos de um processo dirige o modo como executamos esse processo e, por extensão, o modo como ensinamos esse processo a outras pessoas. No fundo, essa afirmação expressa o fato de que o pensamento conduz e dirige as nossas ações; ou, ainda, que a prática se funda na teoria e é por esta orientada.

Tendo por base esse esclarecimento inicial, cabe-nos entrar no mundo da leitura, lembrando que este mundo não é plano; pelo contrário, o mundo da leitura é complexo, elíptico ou espiralado, discrepante e multifacetado. O mesmo pode ser dito em relação ao "processo de leitura", também complexo e multifacetado.

Uma concepção "plana" do processo de leitura pode levar a ações também planas e superficiais em termos de leitura e de ensino da leitura. Neste caso, por ser aligeirado em sua definição, o ato de ler perde em densidade teórica, levando a práticas pedagógicas inconsequentes, que em nada contribuem para a formação de leitores ávidos e maduros.

Uma concepção "complexa" do processo de leitura é capaz de permitir uma análise para acurada dos fatores que interagem durante as práticas de leitura. Por levar em conta a natureza espiralada do ato de ler, essa concepção poderá fazer com que os mediadores de leitura (professores, bibliotecários, pais, etc.) levem em conta, para efeito de ensino-aprendizagem, os condicionantes que dinamizam o processo de leitura, permitindo o monitoramento crítico de cada um deles.

Um exemplo

Para a Professora "X" a leitura é definida como "Transformação da escrita em fala". Mais espeficamente, para essa professora "Ler é transformar os símbolos escritos em símbolos orais". Neste caso, o que "X" pensa do processo vai servir como suporte às suas ações como leitora e como professora de leitura. Tendo uma concepção de leitura restrita à leitura oral, quando ela ler lerá em voz alta e quando ensinar leitura, vai favorecer, enfatizar - tão somente ou principalmente - a leitura em voz alta dos textos em sala de aula, não percebendo de que a leitura é muito mais do que isso.

Para a Professora "Y" a leitura é concebida como uma performance dramática composta por muitas cenas. Neste caso, ela vai ensinar segundo essa definição, fazendo com que os as crianças em fase de aprendizagem da leitura se tornem, simbolicamente falando, dramaturgos (re-escritores do texto), diretores (intérpretes do texto), atores (executantes do texto), públicos (respondentes às idéias do texto) e críticos (comentadores do texto).


LEITURA ENQUANTO INTERAÇÃO E DIÁLOGO

Tendo em mente a tese de Vigotski de que somos seres sociais e que necessitamos de interações com outros seres sociais no sentido de crescer e aprender, a leitura pode ser tomada como um modo de comunicação bi-direcional entre um leitor e um texto (escrito, imagético, sonoro, escultural, gestual, etc.) visando a produção de sentidos.

O leitor age sobre o texto e o texto age sobre o leitor. No movimento dessa inter-ação, os sentidos vão surgindo na consciência do sujeito leitor. O leitor traz para o momento da leitura um repertório prévio de experiências (conceituais e linguísticas), também chamado de "background". E o texto tece forma e conteúdo, vocabulário e sintaxe. Cabe ainda lembrar que o texto a ser lido remete para um contexto (histórico, econômico, etc) e que o próprio leitor também é um ser contextualizado e orientado por determinadas circunstâncias de vida.

Conforme os elementos que entram em jogo no momento da interação leitor-texto, podemos imaginar três situações - situações que expressam os níveis específicos de leitura.

SITUAÇÃO 1 - NÍVEL INDENPENDENTE OU AUTÔNOMO DE LEITURA
Repertório amplo do leitor para um texto semantica e lexicalmente pouco complexo.
O texto se dá facilmente em termos de leitura. O leitor não precisa de consultas a dicionários e nem de esclarecimentos de outras pessoas. Leitura flui com rítmo adequado, sem paradas ou dúvidas. A compreensão gera sentidos. Leitor satisfeito no transcorrer do processo.

SITUAÇÃO 2 - NÍVEL DE FRUSTRAÇÃO DE LEITURA
Texto complicado em termos semânticos e sintáticos para repertório reduzido do leitor.
O texto está muito além das possibilidades de produção de sentidos pelo leitor. Paradas recorrentes em função do estranhamento do vocabulário e/ou da sintaxe. Varreduras visuais retornam incessantemente para releitura de parágrafos, frases e/ou palavras. A compreensão não gera sentidos por falta de repertório interpretativo. Certamente desistência da leitura por sentimento de despreparo ou incompetência.

SITUAÇÃO 3 - NÍVEL INSTRUCIONAL DE LEITURA
Texto desafiador para leitor. Repertório e vocabulário-lexico se equilibram no momento da leitura.
O texto é adequado para movimentar (iniciar e manter) a leitura, permitindo que o leitor, através da reorganização dos elementos contidos no seu repertório, chegue à uma compreensão do texto. Quer dizer: o texto não se dá totalmente (como no Nível Independente) em nem frustra o leitor (como no Nível de Frustração), mas provoca, convida, incita, instiga, impele o leitor a produzir sentidos.

Do quadro acima podemos retirar algumas implicações para o ensino da leitura:

1. Evitar a todo custo o Nível de Frustração em Leitura - isto porque a não-produção de sentidos por falta de preparo e repertório gera comportamentos de frustração, como fuga e esquiva de textos, agressividade, apatia, etc. Certamente que tais comportamentos podem causar a morte do leitor pelo desgosto ao ter de ler qualquer tipo de texto.

2. Oferecer variedade de texto para alimentar e enriquecer o Nível Independente de Leitura - livros de literatura ao nível do repertório dos estudantes, acervos rotativos de textos (curtos e longos), acervos temáticos, etc no sentido de sedimentar interesses e permitir o desenvolvimento de outros interesses, permitindo a expansão do repertório via textos diversificados.

3. Levar em conta o Nível Instrucional de Leitura para ensinar habilidades de leitura que os alunos têm de dominar ao longo da trajetória escolar, apresentar um novo escritor, aprofundar uma unidade temática de leitura no sentido de adensar a compreensão/interpretação das idéias relacionadas ao tema sob estudo, etc. As competências estudadas neste nível são incorporadas pelo leitor e passam para o Nível Independente de Leitura.

A sensibilidade, a experiência e o senso de observação do professor são os guias para a pecepção dos níveis de leitura de uma turma de estudantes. Nunca é demais lembrar que os repertórios trazidos pelos alunos nunca são iguais e as diferenças podem ser altamente produtivas para o avanço do nível de leitura da classe, lembrando o professor que as diferenças podem ser excelentes pontos de partidas para se chegar a determinadas "semelhanças" no ponto de chegada. Caso a sensibilidade do professor apontar para dificuldades no enfrentamento de novos textos no Nível Instrucional, ele deverá organizar atividades de enriquecimento do repertório dos alunos-leitores através de exposição prévia do assunto tratado no texto, discussão do que o grupo já sabe sobre o assunto ou tema, um texto mais fácil ou introdutório que leve ao texto almejado, pesquisas e buscas de preparação, filmes sobre o assunto, excursões, etc.

ESCULTURAS DE CONCEPÇÕES DE LEITURA

Junto à turma de pós-graduação da Unitoledo de Araçatuba, SP (2010). propusemos um exercício em que cada participante deveria escrever a sua definição de leitura. Depois, haveria a eleição da definição mais completa e objetiva, segundo a ótica do grupo. Finalmente, a partir do enunciado da definição vencedora, os membros do grupo deveriam fazer uma escultura com os seus próprios corpos. Ou seja, a escultura corporal serviria como uma ilustração da definião escolhida pelo grupo. Seguem os excelentes resultados conseguidos pelos grupos.













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