domingo, 2 de janeiro de 2011

Arte ou artesanato?


Mestre Vitalino

Valéria Peixoto de Alencar*
Artesanato, arte popular e arte naïf são expressões utilizadas para designar trabalhos de artistas sem formação acadêmica ou sistemática.

Tais conceitos sempre estão sendo revistos e discutidos, pois muitas vezes acabam passando a ideia de que existe um tipo de arte melhor ou pior que outro, o que não é verdade.

Artesanato e arte popular, por exemplo, foram e ainda são expressões utilizadas para trabalhos artísticos que resgatam a cultura popular. No caso brasileiro, podemos dar alguns exemplos: literatura de cordel, tapetes de serragem coloridos feitos em feriados santos, pinturas e esculturas em madeira e cerâmica com temáticas populares (futebol, família, religiosidade, carnaval), etc.

Outra maneira de designar tais trabalhos é a expressão naïf, que significa "ingênuo", ou seja, uma arte ingênua, sem aprendizado sistemático.

Contudo, para continuar a refletir sobre esses conceitos, observe a imagem abaixo:

Reprodução
G.T.O. Porta/Biombo. Escultura em madeira. 236 x 106 cm. Realizada por G.T.O com auxílio de Mario Teles e G.F.O.

Ela é de autoria de G.T.O., nome artístico de Geraldo Teles de Oliveira, que realiza seus trabalhos com seus filhos, ou seja, é uma técnica que passa de pai para filhos, uma tradição.

Olhando a imagem, você pode afirmar que não houve um aprendizado sistemático? Pode não ter sido acadêmico, mas certamente tem um método, foi sistemático.

A ideia de tradição presente nas obras de G.T.O. não se refere à sua exclusividade, pois as técnicas e o trabalho são, quase sempre, passados de geração em geração na cultura popular.

Um dos maiores expoentes brasileiros na arte popular, reconhecido inclusive internacionalmente, foi o pernambucano Mestre Vitalino.

Mestre Vitalino

Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino, nasceu em Ribeira dos Campos, Caruaru, em 1909, e faleceu em Alto de Moura, Caruaru, em 1963. Foi um ceramista reconhecido por retratar em seus bonecos de barro a cultura do povo nordestino.

Mestre Vitalino começou a fazer escultura de cerâmica ainda criança, com as sobras do barro usado por sua mãe, que era louceira, isto é, fazia utensílios para cozinha.

Reprodução
Vitalino e seus filhos fazendo bonecos. S.d., cerâmica policromada. 32 x 27 x 30 cm.

A peça acima é uma espécie de autorretrato demonstrando a tradição ceramista que se perpetua em sua família. Mas suas obras mais conhecidas são as que retratam os costumes, a história e a cultura pernambucana:

Reprodução
Lampião a cavalo. S.d., cerâmica policromada.
*Valéria Peixoto de Alencar é historiadora formada pela USP e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp. É uma das autoras do livro Arte-educação: experiências, questões e possibilidades (Editora Expressão e Arte).

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