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A psicóloga e psicopedagoga Roseli Pereira Silva, em "Cinema e educação" (Cortez Editora), trata de dois temas absolutamente fundamentais para a educação contemporânea. De um lado, discute a questão dos valores em sala de aula no que diz respeito ao combate de qualquer tipo de preconceito. De outro, verifica como o cinema pode ser usado como recurso pedagógico de maneira pró-ativa.
O universo pesquisado pela autora é um grupo de 22 alunos, entre 14 e 17 anos. Durante quatro encontros, a partir da exibição de filmes, foram tratadas temáticas delicadas, todas elas envolvendo preconceito, seja em relação à mulher, ao negro ou aos homossexuais.
Originalmente uma dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Educação da USP, o trabalho contribui para a compreensão do impacto de filmes sobre os adolescentes. Ela sai da mera esfera da percepção desse fenômeno para uma observação concreta do poder do cinema de gerar discussões e alterar comportamentos entre a população jovem.
Ao se deter especificamente sobre a questão do preconceito, Roseli, por meio de questionários com os alunos, consegue apurar como filmes podem ser o ponto de partida para estimular o combate contra a discriminação, devendo ser mais utilizados como motivadores de todo tipo de projeto educativo que tenha a discussão de valores como um de seus pontos essenciais.
O cinema em sala de aula é ainda visto por uma dimensão pedagógica na qual sua utilização constitui elemento fundamental para romper barreiras entre o cotidiano da escola e a vida fora dela, além de diluir separações metodológicas entre o pensar, o sentir e o aprender.
Nos encontros promovidos por Roseli, o grande objetivo foi sempre a interação com os alunos e a participação deles como indivíduos críticos. No primeiro, foi promovida uma rodada de piadas sobre negros, homossexuais e mulheres. Verificou-se que os integrantes do grupo, mesmo que achassem algumas engraçadas, ao ouvi-las em bloco, foram levados a refletir sobre a carga de preconceito que elas carregavam.
Os filmes selecionados para discussão com o grupo foram Homens de honra (história real de um jovem negro que luta para vencer o preconceito e tornar-se mergulhador de elite da divisão de buscas e resgates da Marinha dos EUA), Filadélfia (sobre jovem e promissor advogado demitido por ser homossexual e portador do vírus HIV) e Shirley Valentine (dona-de-casa americana solitária que, ao viajar para a Grécia para recuperar seus sonhos de juventude, trabalha e se estabelece no Mediterrâneo).
A partir dos comentários dos adolescentes sobre estes filmes foi possível, para a autora, valorizar a importância da escola como espaço de formação e informação dos jovens, além de ser um universo em que a aprendizagem de conteúdos deve caminhar lado ao lado do bom relacionamento entre educador e educandos.
A pesquisadora verifica também que os adolescentes deveriam ser mais estimulados a falar e serem mais ouvidos para que pudessem contribuir para um melhor ambiente educacional. Nesse aspecto, a exibição e a discussão de filmes possibilita aos alunos uma enriquecedora problematização de dilemas morais, conscientização de posturas pessoais, revisão de preconceitos e a defesa de valores ligados aos direitos humanos.
Cinema e educação
Roseli Pereira Silva
Editora Cortez
222 págs.
*Oscar D'Ambrosio, jornalista e mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA- Seção Brasil).
Olá ! Gostei muito da sua postagem. O livro que você cita parece ser bem interessante. Sou graduanda em Pedagogia pela UFJF, e acho importante aliar o Cinema as práticas pedagógicas. Juntamente com uma amiga criei um Blog a partir do Projeto CinEduca oferecido em minha faculdade.Nele nós abrimos espaço para a discussão dos filmes exibidos pelo projeto e realmente, o Cinema contribui muito em nossa formação e deve ser usado em nossa práticas, pois realmente o que é dito no seu post se comprova, já que a partir da exibição de um filme são levantadas muitas questões, polêmicas, além de aguçarmos nosso olhar crítico.
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